Não há muito tempo, era comum dizer-se que "o futebol não é para meninas". Hoje, é indubitável a importância do papel das equipas femininas no desporto-rei e a <a href="https://www.jn.pt/desporto/jogadoras-do-rio-ave-acusam-atual-treinador-do-famalicao-de-assedio-sexual-15207996.html" target="_blank">recente denúncia coletiva das ex-atletas do Rio Ave</a> só demonstra que o futebol não é para (alguns) meninos.
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No dia em que as jogadoras do Rio Ave apresentaram queixa contra o ex-treinador Miguel Afonso junto da Federação Portuguesa de Futebol, o agora treinador da equipa feminina do Famalicão viu-lhe instaurado um processo do Conselho de Disciplina da Federação e foi suspenso de funções pelo clube.
O caso, de si já anormal, é-o ainda mais quando tudo isto já aconteceu há dois anos e, que se saiba, nenhuma investigação foi concluída. O Sindicato dos Jogadores recebeu a denúncia há dois anos e encaminhou-a para as "autoridades competentes". As jogadoras asseguram que o Famalicão, que num primeiro momento saiu em defesa do treinador e se recusou a afastá-lo, sabia de tudo no momento da sua contratação. O Rio Ave também soube dos "comentários circunstanciais".
O caso pode ter contornos judiciais. Porém, mesmo que não os tenha, o teor das mensagens enviadas às atletas e o facto de muitos terem assobiado para o lado quando tiveram conhecimento delas já devia fazer pensar quem às vezes parece mais preocupado em limitar o número e o teor das perguntas que os jornalistas têm direito a fazer.
Quando o futebol se propõe a dar maior visibilidade aos conjuntos femininos, deve preparar toda a estrutura organizativa e judicial às circunstâncias. As mensagens divulgadas pelas atletas onde o treinador no mínimo roça o assédio ao pedir fotos e segredo (já para não falar da infantilidade do diálogo) deviam ter feito atuar todos os que delas tiveram conhecimento antes de o caso ser público. Agora, qualquer ato pode ser interpretado como um remedeio.
Sempre que existirem agentes desportivas com a coragem destas atletas, haverá menos meninos como o adepto do Foz FC que insultou de forma misógina uma árbitra assistente. É que se a generalização do feminino no futebol, aparentemente desejável por todos, continuar a ganhar forma, está a indústria preparada e capaz de assegurar a integridade moral de, por exemplo, uma árbitra que é atirada para um estádio de 50 mil pessoas sem que esta seja insultada e/ou assediada pelo facto de ser mulher? A injúria contra os árbitros, mais ou menos recorrente em todos os estádios, é crime. Ser mulher não.
Entretanto, no panorama internacional, a Ucrânia submeteu o pedido de adesão à NATO no dia em que Vladimir Putin assinou os decretos de anexação de quatro regiões invadidas e assegurou que os habitantes daquelas regiões serão cidadãos russos "para sempre".
No Brasil, à medida que se aproxima o dia do ato eleitoral da primeira volta das Eleições Presidenciais, mais desce de tom a campanha. Não foi só o debate da Globo onde "ladrão" foi o mais leve dos insultos protagonizados por Lula da Silva e Jair Bolsonaro (sobretudo por este), é também o vasto leque de paródias de campanha que quase transformam um dos momentos mais decisivos dos 200 anos de história do Brasil independente numa comédia. Se calhar, rir é o melhor remédio.