O especialista publicitário Carlos Coelho analisou à agência Lusa os cartazes de campanha dos cinco principais partidos às legislativas e considerou que a qualidade dos anúncios é globalmente "má", elegendo o cartaz da CDU como "vitorioso" nos terrenos do marketing.
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"Se se optar pela simplicidade que se tira da genuinidade de um candidato", o cartaz de Jerónimo de Sousa e da CDU vence o duelo com os restantes partidos, afirma o gestor e criador de marcas.
O cartaz da CDU em análise, actualmente nas ruas de Portugal, apresenta "alterações" em relação ao anterior da coligação, apresentando agora Jerónimo de Sousa ao eleitorado como "um avô doce, simpático", uma simplicidade publicitária que pode ser "renovadora" e funcionar "bem em termos de imagem para o partido".
Carlos Coelho foi fundador e presidente, até 2005, da Brandia/Novodesign. Em 2007, fundou a Ivity Brand Corp, empresa especialista na criação e gestão de marcas e programas de inovação.
Numa abordagem individual dos cartazes de campanha feita à agência Lusa, o gestor de marcas acredita que o cartaz actual do PS consiste num "terceiro ciclo" publicitário do partido encabeçado por José Sócrates.
"[Sócrates] Começou por apresentar uma obra feita, 'nós conseguimos, conseguimos as energias renováveis, emprego', para um 'Sócrates e as mulheres', num cartaz 'a la Berlusconi' só com mulheres à volta, tirando partido, eventualmente, do estatuto de primeiro-ministro mais 'sexy' que temos tido no país. Agora, para mim, apresenta-se numa pose pré-presidencial", referiu o especialista publicitário.
Para Carlos Coelho, "parece haver" no cartaz de José Sócrates "qualquer coisa para além das legislativas".
No que refere ao cartaz do PSD, Carlos Coelho olha "tecnicamente" para a imagem do PSD como uma "anti-imagem", pontuada por "uma certa arrogância anti-marketing" que "resulta numa má qualidade de comunicação, quer ao nível do discurso quer ao nível da imagem" de Manuela Ferreira Leite, "que em nada a favorece".
Ainda sobre os social-democratas, Carlos Coelho adverte que "recusar que o marketing político" como "base fundamental" para aproximar os partidos das pessoas "não é um bom caminho".
Sobre o cartaz do Bloco de Esquerda, "mais simples", o gestor defende que este é um dos "muitos cartazes diferentes" do BE: "A simplicidade é um bom trunfo, mas não o é no caso do BE. Parece [um cartaz] perdido, não sei se na forma, no conteúdo certamente", analisa.
"Esta simplicidade do BE é uma das grandes desilusões da campanha" a nível publicitário, concretiza Carlos Coelho.
Sobre os cartazes do CDS-PP, o criador da Ivity Brand Corp é da opinião que estes "não demonstram nem a inteligência nem a experiência" de Paulo Portas.
O primeiro cartaz, que apresenta uma série de perguntas ao eleitorado, incorpora diversas perguntas "encriptadas" para o eleitorado, que pode "não saber o que é uma PME [pequenas e médias empresas]".
Os restantes cartazes, defende, "não dão respostas", antes apostam na "lógica 'eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes'. Do ponto de vista de comunicação, esperava-se mais acutilância, inteligência e relevância do CDS-PP", observa Carlos Coelho.